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“Insufficient data for meaningful answer”

sábado, maio 31, 2008

Em 2008, um computador chamado Multivac faz perguntas para um “eleitor representativo” previamente escolhido, uma pessoa comum, e calcula com exatidão qual vai ser o presidenciável vencedor. Tudo isso sem precisar passar pelos incovenientes de uma eleição normal. A idéia saiu da imaginação de Isaac Asimov, e está registrada no conto “Franchise” (“Eleição”, saiu no Brasil na coletânea “A Terra tem espaço”, atualmente esgotada). Norman Muller, o eleitor escolhido como “Voter of the Year“, e que vai ser submetido ao Multivac – computador que aparece também em outros contos do autor -, aceita a tarefa com temor, imaginando que se o resultado for ruim, vão botar a culpa nele. Depois das conclusões do computador, Muller fica surpreso que a população está feliz por ter exercido o direito de votar.

“Franchise” é um conto irônico – e faz um paralelo com as pesquisas de opinião da época (1955) -, mas, tirando o “futuro próximo” 2008, é um tanto complicado traçar um paralelo com a eleição americana deste ano. Eu, num post anterior, tinha apostado que Hillary ia levar facilmente a indicação democrata. Ela ainda não desistiu da corrida, mas é mais que provável que o faça. Errei. Não tinha imaginado a “Obama Fever“, nem o conseqüente desgaste do Partido Democrata. Muita gente errou também. E não foi só com Hillary: McCain também foi uma zebra. Ano passado ninguém teria apostado no senador e veterano de guerra. Ele não tinha dinheiro e era visto com desconfiança pelos eleitores mais conservadores do seu partido. Conseguiu também (por enquanto) contornar as críticas à sua idade avançada e levou a indicação. Agora, o único interesse imediato em sua candidatura é saber quem ele vai escolher como vice. Será um conservador para agradar essa ala do partido? Alguém mais liberal para conquistar os indecisos?

As redes de TV como a CNN e a FOX News adoram abordar as tendências eleitorais de certos grupos (brancos, negros, latinos, brancos de classe média, brancos universitários, ex-militares, operários, americanos no exterior, negros religiosos, caipiras armados etc). Para dividir e identificar, o Multivac existe, na forma de “quadros mágicos” (CNN) e outros gráficos. O problema mesmo é segurar essas conclusões e somá-las em novembro. Até lá vai ser um longo caminho. Pesquisas podem mostrar vantagem de um candidato sobre o outro para, na semana seguinte, inverter os resultados – Bush, por exemplo, estava empatado com Gore em maio de 2000. A febre Obama também não é um identificador confiável. Nas prévias do Partido Democrata, Obama levou em Estados que não contam muito na eleição de novembro (é importante ter em mente o sistema de colégio eleitoral) e em prévias que eram abertas para qualquer eleitor. Ganhou ainda nos Estados em que o sistema de caucus (um colegiado) decide. Hillary levou em Estados importantes, e seu eleitorado tem o perfil de votantes regulares. Nos EUA, nem todo mundo tem paciência para se registrar e sair de casa no domingo para votar – a febre pode apenas ser quente enquanto novidade. E na provável candidatura de Obama, Hillary vai ter um papel de destaque?

As próximas prévias vão acontecer dia 3 de junho (terça-feira). Estão em jogo Dakota do Sul e Montana. Talvez a indefinição acabe.

Cadê o Multivac?